terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Nada pertence a ninguém!!!

A gente se apega ao passado. Se apega e fica desejando que previsivelmente o que venha a acontecer seja exatamente como acontecia. É mais fácil lidar com o que já conhecemos e isso não é nenhuma novidade. E vem alguém e diz: "Mas você não faz mais o que fazia antes", "Você anda tão diferente, mudou tanto, sinto falta das coisas que me falava, das flores que me mandava, dos bilhetes que escrevia". Tem vezes que agimos de maneira tão egoísta que sem querer acabamos cobrando dos outros aqueles velhos presentes de volta com pequenas colocações numa disputa onde nos mostramos mais conhecedores da pessoa que estamos experimentando do que a própria pessoa.

Não permitir que a primavera realce as cores da natureza é o mesmo que fundamentar uma nuvem de carbono e acabar com as sutis diferenças entre as estações do ano. É desejar que a aquarela não ouse misturar outras marcas de tintas para colorir novas paisagens com novas influências, outras visões, outros olhares. Ao querer que o que nos cerca seja sempre igual ao que era quando conhecemos, sem querer, demonstramos nossa incapacidade de lidar com as transformações. Transformações estas que supostamente estimulamos e assim acabamos assumindo o papel do agente que agora condena seu objeto de admiração ao gelo. Congelamento. Não gostaria de amar uma estátua de cera. Nem ter apenas um livro disponível na minha biblioteca. O mesmo programa de TV todo domingo. A mesma música que fala das mesmas ilusões ou desilusões. Ainda é pior quando não somos capazes de assumir o protagonismo daquilo que queremos no mundo. Sinto saudades, sinto falta, recordo quando...

Expressões que jogam o peso do saco sem fundo nas costas do outro.

Por que não faço o que espero daquele que me inspirava?
Por que não sou capaz de plantar e semear uma nova safra de idéias e ideais?

Quando a gente se apega ao passado e não se permite entender que alguns seres sofrem mutações profundas, o tempo vai passando e entupindo a esperança, como se fosse o canal auditivo lotado de uma secreção surda. "Espero que ele (ela) volte a ser como era antes", "Tenho esperança de que me atraia como me atraiu naquele dia em que fez uma surpresa tão linda quando despertei pela manhã".

Preciso dar o direito da pessoa que admiro, que gosto, que tenho apreço de ter suas frustrações, seus sofrimentos internos, suas desilusões graves, seus desbundes, deslumbramentos, seus vícios, suas loucuras e até suas previsibilidades irritantes. Preciso dar-lhes o direito de se expandirem, se retraírem, de se perderem, se encontrarem numa nova, numa antiga, numa boa, numa má, na vibração de Deus ou do Diabo.

Moldar alguém é como escravizar a alma desse mesmo alguém que te fez feliz um dia.

Eu posso ficar o dia todo chorando ou reclamando que o que acontece atualmente não me apetece mais como antes. "Ah como eu gostava de tudo aquilo e hoje não é mais o mesmo" O que não deveria é fincar estacas para que as raízes parem de crescer, pois tirar o direito alheio de forjar, mentir, vomitar, se expressar como bem quiser e até vir a melhorar para si mesmo, não necessariamente para mim, é o desejo estéril de inutilizar e cristalizar a evolução da alma e do espírito alheio.

Eu posso até tecer minhas críticas a ele. Posso não gostar, posso discordar, mas devo aceitar que tem o direito de ir onde quiser, como quiser, com quem quiser, a hora que for, sem que para isso precise de minha autorização.

Dêem liberdade aos pássaros ou contentem-se com os corações empalhados.

No fim, isso é só medo. Medo de não se sentir mais tão familiar com que antes poderia chamar de seu.
Nada pertence a ninguém.

NADA.

( Por Tico Sta Cruz)

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